Por trás do personagem

Foto: Leo Wagner

Foto: Leo Wagner

Quem já assistiu ao Quintal da Cultura, conhece o personagem Teobaldo: figura colorida, de cabelo azul, que sempre anda acompanhado de um violão ou uma sanfona. No entanto, por trás do personagem infantil, há um artista intrigado com a mistura e variedade dos sentimentos humanos. Cristiano Gouveia é ator, músico, compositor e blogueiro. Em sua página Calmaria e Fúria, ele publica textos, contos e poemas que trazem um pouco de tudo: alegria, amor, tristeza, raiva. Nessa entrevista, ele fala sobre o poder da internet no auxílio a escritores. Porém, marca um contraponto: “a internet também é um buraco negro, onde se pode cair facilmente no rio de zilhões de coisas parecidas e anônimas.” Confira abaixo as motivações e inspirações de Cristiano para manter o Calmaria e Fúria.

1. O seu trabalho é essencialmente com crianças e o blog Calmaria e Fúria abrange textos com conteúdo mais adulto. Você vê o blog como um “escape” para trabalhar com outro público?

Nunca pensei o blog como escape de linguagem (adulto ou infantil). Já foi muro das lamentações amorosas, já foi lugar de experimentar narrativas, já foi espaço de refletir o mundo, vixe, já foi tanta coisa! O blog sempre teve mais uma função de espelho, mesmo. De refletir, artisticamente, questões que me eram muito caras no momento. Também é um lugar de experimento da escrita. Onde posso criar possibilidades de textos, de contos, de poemas. Um espaço que fosse diferente da música, do teatro

2.Você tem preferência por trabalhar com o público adulto ou infantil?

Sinto que, principalmente depois do meu filho nascer, me aproximei, naturalmente, muito mais do universo infantil. É um trabalho bem prazeroso esse com a criança. Pensar como dialogar com a criança, olho no olho, sem tratá-la como boba. E, ao trabalhar com a criança, me fez refletir e buscar, para qualquer trabalho, adulto ou infantil, realizar cada projeto com uma diversão e alegria. Sempre. Mas, resumindo, gosto mesmo é de ter a liberdade de passear entre as diferentes linguagens, para os diferentes públicos. Tem muita coisa que apresentamos (seja no grupo de teatro pra criança que participo, a Cia. Prosa dos Ventos, seja no programa Quintal da Cultura) que tem esse “selo infantil”, mas que muitos adultos assistem e gostam e escrevem. Muitos mesmo! E outras canções que não foram feitas pensando em um público infantil, a priori, mas que crianças acabam gostando.

3. Da onde veio a escolha do nome para o blog?

Esse nome surgiu de um texto teatral de um grande mestre e dramaturgo, o Luis Alberto de Abreu. É um texto chamado “Guerra Santa”. Gosto muito desse texto. Muito mesmo. E tem um trecho do texto que um personagem diz: “Sei agora o que antes não sabia: calmaria traz sempre represada fúria.” Desse texto surgiu o nome do blog.

4. A que você atribui a inspiração para os seus poemas e textos do Calmaria e Fúria?

O Calmaria e Fúria existe desde 2005, então, foram muitas as inspirações para os textos e poemas do blog. Imagens, amores, outros poemas, outros autores, situações do dia a dia, temas propostos por outras pessoas. Já escrevi texto sobre um senhorzinho, que conheci em São Tomé, e que tocava uma pequena sanfona; já escrevi sobre inspirado em Manuel de Barros, em mitos como o Minotauro; já escrevi texto pra amigos escritores; textos em parcerias com outros amigos e amigas; já escrevi poemas inspirados em um dia que minha casa foi literalmente arrombada. Enfim, muitas inspirações!

5. Você também fazia parte do Blogueiros Malditos. Como funcionava o grupo?

O Blogueiros Malditos, pelo que me lembre, duro pouco mais de dois anos (entre 2005 e 2007), e era um projeto muito bacana! Não me lembro como conheci o projeto, mas éramos um bando de malucos, não sei quantos (talvez uns 15?) que, em sua grande maioria, não se conheciam, e que escreviam textos semanais a partir de temas propostos. E que trocavam textos, davam pitacos nos textos dos outros, e que curtiam muito escrever. Era um aprendizado coletivo. Tinha gente de Curitiba, de Campinas, de Joinviille, de Belo Horizonte, de Taubaté, do Rio de Janeiro, de São Paulo.A sensação era de estar em um sarau virtual. Onde as pessoas se encontram, digitam-falam seus textos, ouvem opiniões, trocam idéias, tomam uma cerveja, um vinho, um café, um suco, discutem, refletem, e continuam a escrever. Alguns poucos ainda tenho contato, como a Tatiana Rocha (que é cantora e compositora em Campinas), a Vanessa Bencz (que é escritora em Joinville), o Marcio Castro (que é ator e dramaturgo, e que mora em Santo André), a Vanessa Anacleto (que é escritora também, e que mora no Rio). Fora tantos outros que nem cheguei a conhecer, Cirineu, O Empírico, Rafael, Lara, Carmen Luisa, Solari, Marlon, Gabo…

6. Como você vê hoje a rapidez no compartilhamento de informações e interatividade entre autor e leitor? De forma positiva ou negativa? Por quê?

Sinto que, ao mesmo tempo em que tem a rapidez da informação, a capacidade de no exato segundo que se lança o texto na internet ele ficar disponível para ser lido no mundo inteiro, a internet também é um buraco negro, onde se pode cair facilmente no rio de zilhões de coisas parecidas e anônimas. É muita coisa. Mesmo. E sinto que a rede é talvez o melhor caminho. Pesquisar, ouvir, fazer contatos, trocar informações, textos, com seus pares, seus parceiros. Ainda não sei muito me relacionar com a interatividade virtual. Com a criação de um público que acompanha o seu trabalho. Com relação ao blog, escrevo por ter vontade de refletir artisticamente. Sem muito pensar em quem lê. Se houver alguém que se espelhe, que se interesse, será sempre bacana. Mas não é o objetivo principal.

Um pensamento sobre “Por trás do personagem

  1. Pingback: Conheça o blog de Cristiano Gouveia, “Calmaria e Fúria”!

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